segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Aumenta disputa por capital de risco em TI

Há muitos caminhos para crescer e a Navita não está sozinha na trilha escolhida por seus executivos. Especializada em sistemas para portais empresariais e aplicativos para celulares inteligentes, a companhia acaba de receber um aporte financeiro de R$ 2,5 milhões do fundo Invest Tech. Com os recursos, pretende ampliar a participação no mercado externo e elevar o faturamento em 120% já neste ano. "Acelerar o processo de crescimento dessa forma só seria possível com aquisições ou aporte de capital", afirma Roberto Dariva, diretor-executivo da companhia. Para obter os recursos, a empresa teve de aprimorar a gestão e tornar-se uma sociedade anônima.

O caso ilustra o que vem ocorrendo com frequência cada vez maior no mercado brasileiro de tecnologia da informação (TI). O aumento do número de empresas no setor acirrou a disputa por recursos financeiros. Entre os fundos de investimento privados, é comum avaliar pelo menos cem empresas para cada aporte aprovado. A disputa por recursos públicos, como subvenções e financiamentos, não é mais concorrida. O nível de exigência dos investidores aumentou, mas a boa notícia é que as empresas elevaram o grau de qualidade dos seus projetos, segundo relato dos próprios investidores.

Em função da demanda crescente e da disponibilidade orçamentária, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) elevou neste ano os recursos para fundos de capital de risco focados em TI para R$ 200 milhões. No ano passado, foram executados R$ 60 milhões. As opções vão desde fundos voltados para empresas nascentes (capital semente) até aqueles destinados a empresas consolidadas, que buscam recursos para financiar a produção, fortalecer as áreas de vendas e marketing, ou abrir capital. Além do aporte direto, a instituição capta recursos para essas carteiras entre fundos de pensão e investidores institucionais.

A Finep ainda não publicou os editais para seleção de projetos neste ano, mas a busca por subvenção e financiamentos em 2009 dão uma ideia de como será o processo, afirma André Nunes, chefe do departamento de tecnologia da informação e serviços da Finep. No ano passado, o número de pedidos de financiamento (a juros subsidiados) feitos por empresas de TI aumentou seis vezes em relação a 2008. "Parte dessa demanda é efeito da crise, que reprimiu a demanda. Outra parte é decisão das empresas de crescer e se consolidar para concorrer num mercado que se expande com vigor", avalia.

Pelo menos 30% dos pedidos foram feitos pela primeira vez em 2009. A procura por recursos a juros não é a primeira opção das companhias. Elas começam pela subvenção (recursos a fundo perdido) e pela parceria com fundos. A evolução dos pedidos de subvenção também impressiona. A Finep recebeu 1.079 propostas de empresas de TI. No ano anterior, foram avaliados 308 pedidos sob a mesma metodologia. Os recursos disponíveis são de R$ 80 milhões por ano, mas os pedidos em 2009 somaram R$ 2,28 bilhões. "A demanda foi 28 vezes maior do que a oferta disponível", diz Nunes.

A Invest Tech, empresa de investimento criada pelo grupo Perrotti e pela Blackstone Serviços, participou da seleção da Finep de fundos para empresas nascentes de TI. Criado há um ano e meio, a companhia já tinha participação em duas empresas antes de fechar o acordo com a Navita. Neste ano, a Invest Tech planeja investir em mais seis empresas de pequeno porte, com investimentos de até R$ 4,7 milhões por companhia, afirma o sócio-fundador da empresa, Miguel Perrotti. "Há muita procura de empreendedores interessados em ter fundos como sócios e muitos estão conscientes de que é necessário ter uma empresa com gestão transparente. O perfil de gestão das empresas de TI mudou, ficou mais profissional", afirma.

A Navita foi escolhida entre 285 empresas e a avaliação - que inclui projetos de inovação, situação financeira, participação no mercado e potencial de expansão - levou cerca de um ano, observa Perrotti. "A seleção correu em paralelo com outras empresas. Acredito que o anúncio das outras seis será feito em breve", afirma.

A Intel Capital, braço de capital de risco da maior fabricante mundial de chip, investe em oito empresas brasileiras e também planeja ampliar seu portfólio, afirma Fabio de Paula, diretor de investimentos para a América Latina. Em 2006, a companhia anunciou recursos para o Brasil de US$ 50 milhões, que seriam aplicados até 2011. "No ano passado, devido à instabilidade econômica global, ficou difícil concluir novos investimentos, mas neste ano as negociações serão retomadas", afirma o executivo. Os investimentos feitos variam de US$ 200 mil a US$ 10 milhões, mas, em média, a empresa faz aportes de US$ 3 milhões a US$ 4 milhões por empresa no Brasil.

De modo geral, observa o executivo, a oferta de empresas melhorou. "As companhias em estágio inicial eram as que apresentavam mais problemas. Hoje, as incubadoras oferecem apoio a essas empresas", observa. Essa ajuda inicial facilita o processo de maturação dos negócios e os prepara melhor para fases de expansão, internacionalização e abertura de capital, que são o foco da Intel Capital, diz Fabio de Paula.

A Fir Capital, estimulada pelo crescimento do setor de tecnologia, também pretende ampliar as linhas de fundos para empresas no país. Até o ano passado, a gestora operava uma linha de R$ 170 milhões, focada em empresas de médio porte. No fim de 2009, a empresa foi aprovada em uma seleção da Finep para a criação de fundos regionais focados em companhias nascentes. Cada fundo terá recursos entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões e será administrado em parceria com gestores locais. O capital investido ficará entre R$ 120 milhões e R$ 150 milhões.

A Fir Capital também planeja lançar neste semestre um fundo de R$ 250 milhões voltado a empresas consolidadas, com projetos de exportação. As empresas de tecnologia serão o foco. "O investimento será feito em companhias de inovação e com projetos de crescimento acelerado", diz Marcus Regueira, sócio-fundador da gestora.

Atualmente, a Fir Capital detém participações em quatro empresas de TI; dois desses investimentos foram feitos no ano passado. Regueira diz não ter ainda uma previsão do número de negócios que pretende fechar neste ano, mas afirma que as negociações já estão em andamento. "O setor possui muitos nichos carentes de consolidação e é para esses segmentos, com grande potencial de expansão, que olhamos", diz.

Para Caio Ramalho, professor do Centro de Private Equity e Venture Capital da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o aumento da oferta de recursos de fundos de investimento é resultado da retomada do crescimento econômico e da melhoria na gestão das empresas.

O retorno do investimento nas empresas de TI vem se mostrando um dos mais rentáveis. Estudo realizado pela FGV revela que a maior parte dos negócios são fechados por fundos de venture capital, cujo investimento médio por empresa é relativamente baixo, por volta de US$ 1,2 milhão. O valor médio das operações de saída (desinvestimentos) é de US$ 35 milhões. Segundo o levantamento, o setor de informática e eletrônica constitui a maior parcela no portfólio das gestoras de fundos (22% do total). O retorno obtido pelos fundos privados é maior que o dos públicos. Esses investem, em média, US$ 2 milhões e têm retorno de US$ 25 milhões.

A Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (ABVCap) não possui dados consolidados sobre os investimentos feitos por fundos na área de TI em 2009, nem estimativa para 2010. Sidney Chameh, vice-presidente da entidade, diz, porém, que as negociações no setor devem crescer acima do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, impulsionadas sobretudo pelos projetos para atender a demanda da Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016, ambas no Brasil.

Fonte: Valor Online

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