terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Intel começa a fornecer chips para urnas eletrônicas

Não foi a primeira vez que Tom Kilroy esteve no Brasil. Com 20 anos de Intel no currículo, o vice-presidente mundial da fabricante de chips já visitou o país em algumas ocasiões. Dessa vez, porém, Kilroy, que vive nos Estados Unidos, foi persuadido a retornar ao país com mais frequência. "Estamos em um momento muito interessante, vou convencer o Tom a vir ao Brasil uma vez por mês", diz Oscar Clarke, presidente da Intel no Brasil. O exagero na inflexão de Clarke é proposital, mas pode ser que ele realmente tenha algum êxito.

A Intel sempre ocupou posição de liderança no mercado brasileiro de chips, impulsionada pela venda dos micros de mesa e notebooks. Aos poucos, no entanto, a companhia tem ampliado as operações para além da fronteira dos tradicionais PCs. A Intel não fabrica equipamentos, seu negócio é fazer o processador, componente básico que funciona como o cérebro de cada produto. É exatamente esse o seu trunfo. "Tudo aquilo que é digital e que de alguma está conectado à internet pode receber nossa arquitetura", diz Tom Kilroy. O executivo, que visitou o país na última semana, concedeu entrevista exclusiva ao Valor. "Nossa área de negócios que não envolve os PCs tradicionais, mas sim processadores embarcados em diversos produtos, parece algo que mantemos em segredo, mas na realidade é um mercado enorme para nós."

A Intel acaba de vencer dois contratos no Brasil que vão pesar ainda mais nessa balança. Pela primeira vez, a companhia será a fornecedora dos chips utilizados nas urnas eletrônicas. O contrato do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), vencido pela fabricante de equipamentos Diebold, prevê o fornecimento de até 250 mil urnas. O primeiro pedido do TSE, para a produção de 165 mil urnas, já feito feito e está avaliado em R$ 204 milhões. Ao entrar nas urnas, a Intel conseguiu tirar da jogada a rival AMD, que sempre forneceu os chips para a Diebold.

Outro plano da Intel para a área de educação começou a ganhar forma. Em dezembro, a fabricante brasileira de eletroeletrônicos CCE foi escolhida pelo Ministério da Educação (MEC) para fornecer 150 mil laptops educacionais. O chamado "Classmate" será distribuído em 300 escolas públicas do país, para um teste sobre o uso de tecnologia na sala de aula. Dentro do Classmate, há um processador Intel instalado.

De chip em chip, a Intel enche o cofre. O contrato da CCE firmado com o MEC é de R$ 82,5 milhões, o que significa que cada equipamento comprado pelo governo custou R$ 550. A Intel não revela o valor total do que lucrou com esse projeto, mas informa que cada chip usado no Classmate custa hoje US$ 44 a unidade (para o lote de mil componentes). Numa conta simples, chega-se ao montante de U$ 6,6 milhões.

Em recente entrevista ao Valor, o gerente de negócios e ecossistemas para tecnologias educacionais da Intel, Alan Markham, disse que, em março, fabricantes de PCs ligados à Intel vão colocar o Classmate nas prateleiras do varejo. Paralelamente, a companhia acompanha de perto os movimentos dos governos federal e estadual. Durante sua visita ao Brasil, Tom Kilroy inclui um encontro com o ex-ministro e atual secretário de Educação de São Paulo, Paulo Renato. "Conversamos sobre uma série de projetos", comenta Kilroy.

No núcleo de produtos como as urnas eletrônicas e os laptops escolares está a aposta da Intel em um processador batizado de "Atom". Criado para rodar em equipamentos que não exijam alto desempenho, o Atom tem sido usado pela empresa para entrar em uma infinidade de produtos. "Além do mercado de netbooks (laptops de tamanho inferior a 10 polegadas), temos levado esse processador a quiosques de aeroportos, câmeras digitais de segurança e dispositivos de assinatura digital", comenta Kilroy. "O Brasil também tem muito espaço para a instalação desse chips em veículos, caixas de autoatendimento e TV digital."

Tudo isso não significa que a Intel vá se descuidar dos tradicionais PCs. Enquanto emplaca o "Atom" em produtos mais simples, a Intel se defende entre os processadores mais sofisticados. Na semana passada, a empresa aproveitou o evento Campus Party, realizado em São Paulo, para lançar a nova família dos processadores "Core". O componente, produzido com o processo de manufatura de 32 nanômetros, tem menor consumo de energia.

As previsões da Intel indicam que o Brasil será o terceiro maior mercado de computadores do mundo até o fim deste ano, ultrapassando Japão e Alemanha e ficando atrás apenas de Estados Unidos e China. O país, diz Kilroy, tem sido o contrapeso da lentidão que alguns países ainda enfrentam na economia. No ano passado, o mercado global de processadores caiu 9%, movimentando US$ 226,3 bilhões, segundo a Semiconductor Industry Association.

Para este ano, a estimativa da empresa de pesquisas Gartner é de que o setor cresça 13%, com vendas de US$ 255 bilhões, e retorne ao volume de 2008. "O Brasil é um dos países em desenvolvimento onde temos conseguido nossos melhores resultados", afirma o vice-presidente da Intel. "Em alguns cenários, o país já ganhou status de um mercado maduro."

Fonte: Valor Online

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