A mesa de snooker resiste, ao lado da TV de tela plana e do videogame, mas são, digamos, o último bastião entre os espaços de entretenimento que costumam caracterizar os escritórios do Google ao redor do mundo. A sala de massagem - sim, eles tinham uma - virou lugar de armazenagem e, em poucos dias, será derrubada para dar lugar a mais escrivaninhas. A sala onde ficava a mesa de pingue-pongue já foi colocada abaixo, as redes (de descanso, não de computadores) foram retiradas e a mesa de pebolim está abandonada em meio a caixas de computadores ainda não desembalados.
O ambiente no quartel-general do Google em São Paulo reflete bem o momento pelo qual a companhia está passando no país. A empresa de internet está em processo de contratação de 125 profissionais - um acréscimo de 50% em relação à equipe atual, de 250 pessoas - e é difícil encontrar lugar para colocar tanta gente de uma vez.
Não é a única coisa que está mudando no Google. Desde 1º de março a empresa tem um novo presidente no Brasil. É Fábio Coelho, que comandou o iG por 18 meses, antes de se juntar à empresa. Além disso, faz um mês que o Google tem um novo executivo-chefe global - o cofundador Larry Page, que substituiu Eric Schmidt, atualmente no cargo de presidente do conselho.
O ritmo acelerado de contratações no Brasil indica um dos principais desafios de Coelho: manter o ritmo de crescimento no país. A companhia não divulga dados financeiros por subsidiária, mas há 50 dias, quando esteve em São Paulo, Schmidt revelou que a receita do Google no Brasil cresceu 80% no ano passado - um número surpreendente mesmo no setor de internet, cujas companhias estão acostumadas a crescer rapidamente.
"Abrimos recentemente filiais no Peru, no México e na Colômbia - e vamos abrir mais dois ou três escritórios na América Latina em breve", diz Coelho ao Valor. "Mas o Brasil ainda é o maior mercado da região e continuará sendo por muito tempo. Somos vistos pela companhia como um foco de investimento."
Plano é ocupar três andares em um dos espaços comerciais mais cobiçados de São Paulo
O reforço da equipe será distribuído entre São Paulo e as instalações em Belo Horizonte, onde o Google estabeleceu um centro de desenvolvimento, em 2005, ao comprar a brasileira Akwan.
Em São Paulo, parte da equipe terá de se mudar para instalações provisórias, que estão sendo preparadas para desafogar o escritório atual. Mas a mudança definitiva virá em 2012. É quando fica pronto o Projeto Faria Lima, um conjunto comercial cuja construção está cercada de superlativos e uma aura de exclusividade.
O complexo está sendo erguido em um terreno de 19 mil metros quadrados, que pertenceu ao especulador Naji Nahas na década de 80 e foi vendido em 2008, por R$ 500 milhões. Trata-se do último terreno disponível na av. Brigadeiro Faria Lima - uma das regiões mais disputadas de São Paulo. Não bastasse isso, a prefeitura parou de conceder licenças para a construção de edifícios na avenida.
Da sede atual do Google, também na av. Faria Lima, dá para ver o prédio, cuja construção é vazada, uma saída arquitetônica encontrada para permitir a coexistência com a Casa Bandeirantista, uma construção histórica com paredes de taipa de pilão. O Google vai se distribuir em três andares, mas em parte deles a ocupação será parcial, diz Coelho.
Os novos contratados vão reforçar várias áreas consideradas essenciais para o futuro da empresa, uma mostra da diversidade de tarefas que o Google tem pela frente.
A publicidade on-line é a principal fonte de receita da companhia - e tem sido suficiente para proporcionar um ciclo de crescimento saudável. No ano passado, os anúncios responderam por 96% da receita, que atingiu US$ 29,3 bilhões e cresceu 24% sobre o ano anterior. No primeiro trimestre do ano fiscal corrente, encerrado em março, a empresa registrou outro aumento significativo, de 27%, para US$ 8,58 bilhões. Os ganhos líquidos somaram US$ 2,3 bilhões.
Muitos analistas têm dito, porém, que a companhia precisa diversificar sua receita para mudar o perfil que os adversários gostam de classificar como sendo o de um "pônei de um truque só".
Os serviços para empresas são uma forma de reduzir a dependência da publicidade. Recentemente, o Google fechou no Brasil um acordo com a Anhanguera Educacional para oferecer aplicativos - softwares para escritório que competem com os programas da Microsoft - a 300 mil usuários. A estratégia do Google é usar a chamada nuvem, um modelo pelo qual os programas são acessados via internet e, por isso, não precisam ser instalados em cada computador. "Estamos na véspera de uma grande revolução, baseada na nuvem, e temos condições de participar desse jogo", afirma Coelho.
Os vídeos são outra parte do arsenal. O Google é dono do YouTube, o mais popular site de compartilhamento de vídeos do mundo. No início, um dos problemas apontados para ganhar dinheiro com o site era o risco de, por exemplo, associar um anúncio da Coca-Cola a uma página que mostrasse o vídeo de alguém exibindo uma lata de Pepsi.
Esse temor parece afastado. A companhia tem explorado outros modelos, como a oferta de canais exclusivos de programação pelo site, como a exibição de propriedades por imobiliárias e a transmissão de eventos patrocinados ao vivo.
Parte das prioridades do Google enfrenta restrições de infraestrutura no mercado brasileiro. É o caso do Android, seu sistema operacional para celulares. A companhia tem feito um grande esforço em torno do sistema, mas no Brasil os smartphones ainda são caros, assim como os serviços de banda larga, o que torna a adoção mais lenta.
Coelho vê o cenário com tranquilidade. Ele passou cinco anos nos Estados Unidos, cuidando dos negócios de internet da AT&T, quando o mercado americano começava a alçar voo. No Brasil, diz ele, pode demorar um pouco mais, mas o cenário vai se repetir. A julgar pelo prognóstico, haverá muito trabalho - e nenhum snooker.
Fonte: Valor
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