quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Esquenta disputa entre sistemas para smartphones

Ao comprar um smartphone de uma operadora móvel ou no varejo, a maioria dos consumidores nem imagina que sua escolha pode alimentar uma guerra de mercado entre desenvolvedores de sistemas operacionais - o software básico do celular. O mais visível para o usuário é o charme do aparelho, a facilidade de acesso à internet e a existência de aplicativos que permitam ler notícias, jogar, ouvir música, ver vídeos e se comunicar com sua rede de relacionamentos. Pouca gente sabe, por exemplo, que o sistema operacional determina os aplicativos que estarão à sua disposição. À medida que os aplicativos ficam mais relevantes, no entanto, mais sangrenta tende a ficar a guerra em torno dos sistemas básicos.

A briga também preocupa os fabricantes de smartphones e de equipamentos para redes, que não querem se ver reféns de uma ou outra empresa dominante.

O mercado é liderado por meia dúzia de sistemas operacionais, com softwares de menor participação correndo por fora. Na disputa estão nomes como Nokia, Google, Research in Motion (RIM), Apple e Microsoft. Para parte da indústria de telefonia móvel, o número de competidores é excessivo. Executivos ouvidos pelo Valor preveem uma seleção no mercado e dizem que nem todos os sistemas sobreviverão, seja por extinção ou consolidação.

Nessa guerra, vantagens importantes são perdidas em uma única batalha. A Intel contava com a aliança com a Nokia para dar impulso a seu sistema operacional MeeGo. A Nokia, porém, desistiu do acordo para se aliar à Microsoft, o que mudou o cenário e levou à queda das ações da Intel.

O futuro do MeeGo agora é uma interrogação. O executivo-chefe da Intel, Paul Otellini, procurou mostrar confiança em Barcelona, onde participou ontem do Mobile World Congress. Segundo Otellini, o fato de a Nokia ter mudado sua estratégia não significa que o setor deva fazer o mesmo. Ele disse que as operadoras precisam de um sistema aberto, fácil de usar, e que planeja lançar o MeeGo este ano para smartphones e tablets, além de dispositivos embarcados em veículos.
Líderes do setor criticam os sistemas operacionais proprietários, como os da Apple e da RIM (fabricante do BlackBerry), que não podem ser usados por outros fabricantes. Symbian e Android são mantidos por fundações e são sistemas abertos, que podem ser usados pelo mercado. O Windows é fechado, mas pode ser licenciado. "Há consenso na indústria de que não há espaço para todos", afirma Anderson Teixeira, presidente da Sony Ericsson para as Américas, instalado em Atlanta, nos Estados Unidos. A companhia optou por investir em apenas um sistema operacional, o Android, que compõe toda a linha de smartphones da marca. Teixeira não comenta o eventual interesse da empresa na produção de tablets.

Apesar de acirrada, a disputa também abre oportunidades de negócios. Os fabricantes de equipamentos estão atentos, como é o caso da Alcatel Lucent, que comprou uma empresa americana, a Openplay, que permite aos desenvolvedores de conteúdo criar aplicações independentemente de sistema; a adaptação é realizada por uma interface, informa o presidente da Alcatel Lucent no Brasil, Jonio Foigel. Outra empresa que encontrou um segmento no mercado é a Skeape, que atua na mesma linha da Openplay e exibia seus serviços no estande da RIM.

O diretor da Ericsson no Brasil, Jasper Andersen, diz que a Apple, por exemplo, vem batendo na tecla de desenvolvedores exclusivos, embora os fabricantes de equipamentos e as operadoras estejam, por seu lado, fazendo pressão para a dona do iPhone abrir mão dessa postura. O executivo lembra que, no caso do Android, os fabricantes de celulares vêm chamando a atenção para a necessidade de adaptações do sistema para diferentes aparelhos.

O executivo-chefe e presidente do Google, Eric Schmidt, disse em palestra no Mobile World Congress que a empresa está corrigindo essas diferenças. O Google planeja lançar, em breve, o Android 3.0, com uma versão para tablets e outra para telefones.

A Nokia, antes de se unir à Microsoft, tinha dado um passo na contramão dos interesses do mercado. Ao companhia adquiriu a totalidade das ações da Symbian, que estava distribuída entre vários fabricantes, restringindo o sistema a seus próprios aparelhos. O movimento restritivo não parece ter tido uma repercussão positiva entre os consumidores. Coincidência, ou não, o movimento marcou a perda de mercado para o iPhone.

A parceria da Nokia com a Microsoft preocupa os fabricantes de equipamentos, que questionam se haverá alguma restrição ao uso do Windows Phone, com versões exclusivas ou prioritárias à Nokia. De acordo com o memorando interno que o atual presidente da Nokia, Stephen Olop, enviou aos funcionários da empresa, a parceria é de vida ou morte. Ele escreveu que se trata de um "tratamento de choque" e de uma "plataforma para pegar fogo".

O diretor-geral da Alcatel Lucent para a América Latina, o argentino Oswaldo Di Campli, indica como tendência a integração de sistemas operacionais. O movimento, diz ele, tende a ser uma demanda tanto da indústria quanto de desenvolvedores e até de usuários mais exigentes, que querem ter de tudo um pouco no mesmo equipamento. Um processo nessa linha, no entanto, exige tempo, reconhece o executivo.

Fonte: Valor

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