quinta-feira, 19 de maio de 2011

Rio quer Bovespa mais

0 chamado " mercado de acesso" para pequenas e médias empresas da bolsa paulista, o Bovespa Mais - que em seis anos só conseguiu atrair uma -, pegará a ponte-aérea para tentar uma nova chance no Rio.
Décadas depois de ver a base do mercado de capitais brasileiro migrar para São Paulo, a capital fluminense trabalha para voltar a ser um polo financeiro no Brasil.

A iniciativa é da Secretaria Municipal da Fazenda, hoje capitaneada por Eduarda La Rocque, ex-executiva que fez carreira na área de riscos do banco BBM. Ela organizou o Grupo Financeiro Carioca (GFC), que reúne colegas do mercado financeiro - o que, acredita, é o diferencial da iniciativa.

O grupo se propõe a fazer vingar no Rio segmentos de mercado que ainda não foram desenvolvidos em São Paulo ou que, no caso do Bovespa Mais, estão patinando.

"Não queremos concorrer com São Paulo. Nem acreditamos que depois de migrarem, nos anos 90, os bancos de investimento, a bolsa ou o Banco Central voltarão para o Rio", afirma Eduarda. "Nós estamos articulados e acreditamos que conseguiremos fazer esse segmento andar", diz a secretária.

A movimentação dos cariocas vem num momento em que a BM&FBovespa está na berlinda. Como exerce um monopólio, está sendo criticada pelos investidores por cobrar taxas altas e por uma certa lentidão no processo de modernização e comunicação com o mercado.

José Antonio Gragnani, diretor-executivo de desenvolvimento e fomento de negócios da BM&FBovespa, destaca que os mercados agora são eletrônicos e a bolsa deseja estar em todo país. Para ele, a iniciativa carioca casa com a intenção da bolsa de buscar parceiros no Bovespa Mais.

"Eles estão fazendo um levantamento das companhias do Estado que têm perfil para se listar no mercado de acesso. E o Rio é muito importante para nós", diz.

Mês passado, um grupo de empresários, entre eles Eike Batista, anunciou a criação da Brix, a bolsa de energia, no Rio. E há informações de que uma eventual nova bolsa no país, que está sendo estudada pela americana Bats e pela gestora brasileira Claritas, tenha a sua sede na cidade.

O Rio já vive os efeitos do pré-sal, não apenas pensando na exploração do petróleo, mas em toda a cadeia de negócios que ele vai movimentar, nos ramos imobiliários, de serviços, tecnologia, recursos humanos e também em instrumentos financeiros.

Esse momento coincide com a diminuição da sensação de insegurança da população, fruto do trabalho das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em diversos morros. Além do espanto em relação à disparada do preços dos imóveis, o que se ouve é que o carioca voltou às ruas e recuperou a cidade - e sua estima por ela.

O ambiente de negócios que se instala na cidade, que ainda abrigará a Copa do Mundo e as Olimpíadas, se encaixa nos planos do GFC, que estuda ainda desenvolver derivativos de energia, óleo e gás e instrumentos financeiros imobiliários.

No caso do Bovespa Mais, a cidade parece reunir todas as pontas que precisam ser ligadas para fazê-lo funcionar. Empresas da cadeia do pré-sal precisam de recursos. Por lá estão gestores de perfil "fundamentalista", que investem com pensamento de longo prazo. Além de bancos de médio porte que já manifestaram intenção de estruturar operações menores, no mercado de acesso, como Modal e Máxima. O GFC tentará ser o catalisador que faltava para unir os agentes e fazer esse mercado deslanchar. A tese defendida é que o ideal seria registrar um bloco de empresas praticamente ao mesmo tempo.

"Desenvolver o Bovespa Mais no Rio é uma demonstração de que esse segmento quer se alinhar ao 'private equity' [fundos de participação em empresas]", afirma Renê Sanda, diretor de investimentos da Previ, o fundo dos funcionários do Banco do Brasil.

"Abandonar de vez a imagem de que é um segmento que concorre com os fundos é a melhor forma de vendê-lo", avalia.

Gragnani, da BM&FBovespa, ressalta que por ter fundos fundamentalistas e de "private equity", o Rio poderá alimentar o mercado de acesso porque concentra tanto os investidores que podem vender os papéis quanto os que irão comprá-los.

Thomas Tosta de Sá, conselheiro consultivo da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (ABVCAP), diz que o Bovespa Mais é complementar às atividades dessa indústria. "Hoje esses fundos investem em cerca de 600 empresas. A bolsa deverá ser a forma de saída deles de pelo menos 30% delas. Poder testar o mercado de acesso nesse processo será interessante", afirma.

O conselheiro da ABVCAP, que tem sua sede no Rio, destaca que a cidade se consolidará como grande centro de inovação tecnológica do Brasil, por conta de toda a indústria do pré-sal, mas também pelo fato de as grandes companhias brasileiras estarem lá, caso de Vale, Petrobras, Oi e das Organizações Globo.

"O contexto de negócios no Rio é bem mais amplo do que pensar apenas na exploração do petróleo", afirma. Ele lembra que na cidade está a gigantesca poupança de fundos de pensão como Previ e Petros, que fazem grandes investimentos via fundos de participações, num processo que pode gerar empresas candidatas ao segmento.

Carlos Fernando Costa, diretor financeiro e de investimentos da Petros, fundo dos funcionários da Petrobras, acredita que uma série de companhias do pré-sal vão abrir capital nos próximos anos e fortalecer o mercado.

"O Bovespa Mais é um excelente passo para a capitalização antes da chegada ao Novo Mercado", afirma Costa, apostando que empresas do Rio, ou que orbitem na cadeia de negócios que o pré-sal vai desencadear, são as principais candidatas. Ele acredita, porém, que elas ainda precisam encorpar antes de ir para o mercado. Mas observa que além da demanda econômica, o pré-sal desenvolverá o mercado de capitais, desde produtos financeiros até gestores.

Fonte: Valor

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